sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

ARMAS DE BRINQUEDO

Elas são o futuro do País. E o que esperar do nosso futuro se nossas crianças não veem mais graça em passar as tardes junto com outras crianças, brincando de pega-pega, pula-corda, esconde-esconde, entre tantas outras brincadeiras de rua, hoje saudosistas, que poderiam ser citadas? O que esperar de crianças que preferem a fria interação com o computador e suas maravilhas tecnológicas, videogames cada vez mais avançados, com jogos em rede, em que você pode brincar de matar algum outro participante? Magnífico! Estar em frente ao computador e relacionar-se através dele é muito mais fácil do que se comunicar com o seu vizinho, que mal lhe dá bom dia.

O que estamos fazendo? O que estamos ensinando à nossas crianças? O que pretendemos com isso? Quem é o papai-noel? Ora, minha filha, ele é apenas uma armadilha norte-americana disfarçada de boas intenções para que as crianças desde muito cedo, tornem-se capitalistas e aprendam a gostar das pessoas que lhe dão presentes. Carinho, afeto, amor... o que é isso? Vem embrulhado, mãe? Será esse o nosso futuro? Querem acabar com a violência oferecendo mais violência ainda.


Eu não deixo meu filho ficar pela rua, o mundo anda muito violento. Mas eu compro super jogos de guerra para ele. Como eu sou esperto!


E esses desenhos, meu Deus! Poderia passar o dia citando os nomes de todos os que só estimulam o que já existe com tanta abundância dentro de nossa sociedade: competitividade, consumismo, violência, sexualidade precoce, etc. Dia desses não pude acreditar no desenho animado que vi na TV. Enquanto esperava no cabeleireiro olhava furtivamente para a televisão na minha frente, passavam os “inofensivos” desenhos, quando começou o desenho da Disney, em que o protagonista do desenho, o Pateta, aparecia em cenas com um cigarro na boca, e pelo que dava a entender tentava parar de fumar, mas no final do desenho ele termina com o cigarro na boca, sem conseguir livrar-se do vício. Além de passar uma idéia da incapacidade diante de um vício como o tabagismo, a Disney se esquece de que há crianças menores de cinco anos que já assistem aos seus desenhos e que não compreendem a mensagem, e sim a imagem. E só o que vemos desde o começo do desenho até o final é uma apologia explícita ao fumo, com uma mensagem de incapacidade de superação diante do mesmo.


É esse tipo de “coisa” que oferecemos para as nossas crianças se divertirem? Pais negligentes, educadores despreocupados, crianças infectadas por todas essas apologias, tecnologias. E o que fazemos a respeito? A infância está sendo destruída bem na frente de nossos olhos, mas não atinamos para isso. As novas gerações estão nascendo já podres. A família quase sempre é desestruturada pelo fato de não sabermos nos relacionarmos e respeitarmos, com isso gerando traições e separações que afetam nossas crianças; os nossos futuros homens. É coisa óbvia, porém raramente observada, que as crianças, principalmente, são como esponjas, absorvem tudo muito rapidamente. Sua mente ainda está limpa, tudo no mundo é novo e misterioso, algo a ser provado. As crianças levam tudo à boca para saber o gosto, cutucam tudo que veem, são atraídos por cores fortes e brilhantes. São potes vazios pedindo e querendo se preencher. Por isso que se aconselha colocar crianças desde cedo em cursos de língua, academias de dança, oficinas de pintura, e tudo que crie e estimule capacidades latentes do indivíduo.

São constantes o uso da violência nos desenhos. Todos os heróis salvam o mundo recorrendo à violência, causando em nós a aceitação e prática disso em nossa vida. Por conta desta aceitação, quando adultos, principalmente, passamos a reagir a tudo com violência; explodimos por muito pouco, no trânsito as pessoas se matam por causa de besteiras, nos bares as pessoas se matam por causa de besteiras, nos lares as pessoas se matam por causa de besteiras. O diálogo está sendo esquecido, renegado, para que nós nunca saibamos nos organizar em torno de algo grandioso, para que nunca consigamos resolver as coisas pacificamente, para que O Outro se torne cada vez mais algo distante, diferente e desnecessário. A banalidade da violência e miséria nos leva a achar normal pessoas traindo, explorando e assassinando umas às outras. O nível de crueldade é tão grande que quando veem um grande acidente chegam em casa contando, como se aquilo fosse o máximo. Não foi com ele, nem com alguém próximo a ele. Isso sem contar na hora do acidente, que esses urubus ficam em volta do acidentado prestando atenção em todos os detalhes para ser fiel ao horror e dor alheia. Se ao menos eles estivessem alí para prestar socorro, seria muito válido.


Ao contrário do que deveria ser feito, por conta muitas vezes de nossos medos, que desde cedo transferimos para os nossos filhos, acabamos por aprisioná-los mentalmente, fisicamente e espiritualmente. Criamos seres vazios, desprovidos de opiniões próprias, criações da mídia, das propagandas, pessoas padronizadas, fardadas, limitadas, que não pensam, apenas repetem pensamentos que foram lhe empurrados olhos a dentro desde o dia do seu nascimento até o presente momento de sua vida desprovida de sentido a não ser o de consumir, satisfazer-se, e gozar do mundo inconsequentemente. Os desenhos mais uma vez têm um papel substâncial nessa idiotização de nossas crianças. Desenhos como Bob Esponja, Meu amigo da escola é um macaco, e muitos outros, transformam-nas em lesos ambulantes com seus besterois, risadinhas, macaco balançando a bunda vermelha na tela. Os grandes programas não têm a devida valorização, como o Castelo Rá-tim-bum, Mundo da lua, seriados como Anos incríveis, etc. Se nós valorizarmos o que é bom e negarmos o que é ruim, não teremos mais tanta porcaria nas TVs, nem nos supermercados, nem nas livrarias. Se não temos como fugir do consumismo, temos que no mínimo aprender a consumir.


Salvem as crianças! Sejam os bons exemplos para elas; não joguem lixo no chão, não banalizem a violência, não desrespeitem os outros seres nem o seu planeta. Incentivem os bons hábitos, a leitura, o exercício físico, a doação, a autocrítica e o autoconhecimento. Deem boas crianças para o nosso mundo. Deem-lhes carinho, amor, respeito, conhecimento, espiritualidade, sabedoria. Abram as portas dos bons caminhos e deixem-nas trilhar. Previnam-se quando forem ter relações sexuais para não terem filhos em um momento da vida em que com certeza você não tem preparo nem estrutura para tamanho feito que é colocar um ser neste mundo. Respeitem suas individualidades, pois cada ser é único e todos somos um só.