quinta-feira, 25 de março de 2010

A Arte de Escrever, Arthur Schopenhauer

Ler cansa. Cansa porque envolve esforço, tempo, concentração. Hoje, com todas as facilidades da vida moderna, muitos lêem somente quando são obrigados: na escola, para o vestibular, na faculdade, ou para se manter atualizado profissionalmente. Poucos são os que lêem por prazer. Menos ainda aqueles que escrevem por prazer. A maioria dos escritores "vivem da literatura e não para a literatura", segundo Schopenhauer. E raras vezes ambas atividades são exercidas pelo mesmo homem. Enquanto muitos gastam suas energias e recursos em festas, divertimentos, busca de prazeres fulgazes, A arte de escrever mostra como gastar e obter um retorno à altura, com a literatura.
De espírito eternamente provocador, Arthur Schopenhauer foi um filósofo que influenciou grandes nomes da atualidade, como Machado de Assim, Nietzsche, Freud, Wagner, Tolstói, Sartre e Thomas Mann, entre outros. E hoje ainda é considerado um dos principais pensadores de toda a história alemã. A arte de escrever é uma coletânea de cinco ensaios que Schopenhauer escreveu em seu livro Parerga e Paralipomena (Acessórios e Remanescentes) que contém ensaios sobre diversos temas. Os cinco escolhidos são os que falam da literatura: escrita, estilo, leitura, crítica e pensamento literário.

1. Sobre a erudição e os eruditos (Über Gelehrsamkeit und Gelehrte). O autor critica muito aos pretensos eruditos, dizendo que quem lê muito pensa pouco. Ele classifica como escritores distintos aqueles que vivem DA literatura dos que vivem PARA ela. Outro ponto importante é quando ele diz que "a maior parte de todo o saber humano, em cada um dos seus gêneros, existe apenas no papel, nos livros, nessa memória de papel da humanidade. Apenas uma pequena parte está realmente viva, a cada momento dado, em algumas cabeças" (pg. 29). As revistas literárias ao invés de separarem o joio do trigo, tem suas opiniões pagas e passam a indicar livros ruins para os leitores.

2. Pensar por si mesmo (Selfstdenken). A organização dos pensamentos é fundamental. E pensar com profundidade é possível somente sobre o que se conhece, e vice-versa. "Uma pessoa somente deve ler quando a fonte de seus pensamentos próprios seca" (pg. 42). Tanto a leitura excessiva quanto a experiência não substituem a arte de pensar. Pensar requer mais esforço que elas. O pensador deve ruminar suas próprias idéias para chegar à conclusões por si só e assim desenvolver o seu raciocínio sozinho.

3. Sobre a escrita e o estilo (Über Schriftstellerei und Stil). Há escritores - e livros - bons e ruins. O escritor é ruim quando escreve por dinheiro. Os livros mais recentes não são os melhores e "o público é tão simplório que prefere ler o novo a ler o que é bom" (pg. 70). Como a maioria dos livros é ruim, devemos desmerecer os ruins para valorizar os bons. O autor critica o anonimato, tanto na escrita quanto na crítica. O estilo revela o tipo de escritor que escreveu a obra. Se ele escreve mais palavras do que realmente precisa, ou é confuso e obscuro, só tenta parecer que sabe mais do que realmente sabe. Schopenhauer enumera a partir daí vários vícios que desmascaram os escritores ruins.

4. Sobre a leitura e os livros (Über Lesen und Bücher). "Quando lemos, outra pessoa pensa por nós: apenas repetimos seu processo mental" (pg. 127). A maioria dos livros é escrita somente para vender, e tão importante quanto escolher o que ler, devemos escolher o que NÃO ler, pois a vida é curta, e o tempo e energia são limitados. Biografias não devem ser lidas em substituição às obras originais escritas. Somente pouco mais de uma dúzia de obras a cada século irão permanecer para a eternidade. "O reconhecimento pela posteridade costuma ser pago com a perda de aplauso por parte dos contemporâneos, e vice-versa" (pg. 138).

5. Sobre a linguagem e as palavras (Über Sprache und Worte). Este é o ensaio mais técnico, e define que as primeiras palavras a existirem foram as interjeções. Como disse Voltaire, o adjetivo é inimigo do substantivo. A língua vive um momento em que não se aperfeiçõa mais, somente fica cada vez pior e mais simples. Quem aprende mais de uma lingua aprende não só palavras novas, mas conceitos novos. Expande a sua maneira de pensar. Por isto que as traduções são imperfeitas, pois há palavras em uma língua com um conceito impossível de traduzir para outra língua. Schopenhauer estimula o estudo do grego, do latim e do alemão.

Depois de citar algumas passagens e pensamentos, posso concluir que é um livro que merece ser lido e relido. O autor provoca. Dá alfinetadas, e eu mesmo senti algumas. Mas ele defende bem os seus argumentos e provoca a reflexão no leitor. É um livro escrito para escritores, para leitores e para pensadores. Diferente de O Caminho das Pedras, de Ryoki Inoue, que nos ensina como escrever um best-seller, um livro escrito objetivamente para vender e você ganhar dinheiro, A arte de escrever mostra como escrever um livro para a humanidade, que mostre o potencial do escritor e faça as gerações posteriores usarem o livro ponto de partida à sua própria evolução.
( Jefferson Luis Maleski)


ARTHUR, Schopenhauer. A arte de escrever. Rio Grande do Sul: L&PM pocket, 2007

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